sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Escorredor Laranja do Bixiga

No dia em que comprei pra presente um plástico e colorido escorredor de macarrão, percebi o quanto aquele apartamento no Bixiga fazia parte da minha vida. Pouco antes do escorredor laranja, minha rotina ali era de passagem, vai e vem, nos vários sentidos do termo. Porém, o tempo foi passando e as visitas ficando, naturalmente, cada vez mais longas. Era junho, início de inverno, e evitar o frio e os lugares óbvios próximos ao bairro fazia com que a gente ficasse cada vez mais naquele espaço. Lá, organizávamos partidas de dominó que varavam a noite, além de jantares e almoços pra reunir os amigos. Era melhor que qualquer festa. E ali estava ele, sempre presente, o quase fluorescente escorredor laranja. Aquele apartamento sempre teve uma tendência pra apartamento coração de mãe. Um lance “sempre cabe mais um”. Gosto da ideia de dividir a vida com outras pessoas, de cozinhar pra muita gente, de vê-las felizes, comendo, saboreando cada garfada como se fossem bebês descobrindo os sabores nas primeiras papinhas. É, eu também tenho a tal tendência coração de mãe. E com o inigualável laranjão furado nunca foi diferente. Passaram por ele mãos de Curitiba, do Rio de Janeiro, de Brasília, São Paulo e até de Zarate, cidade do interior de Buenos Aires, na Argentina. Esse escorredor gosta é de movimentação. E a gente também.


2010. Quase um ano depois da aquisição do nosso querido companheiro laranja aqui estamos, no mesmo apartamento no Bixiga. Esse escorredor deveria ser tombado como patrimônio histórico da casa. Vão uns, vem outros e ele lá, fazendo parte das refeições e de toda a história daquele lugar. História. É isso que o amplo e acolhedor apartamento vai ser em poucas semanas. E agora, relembrando tudo isso, percebi o quanto o nosso laranjão importa. Tanto quanto importam os moradores dali. Tanto quanto importa o que construímos, o que vivemos e o quanto crescemos ali. E eu espero, do lugar mais fundo do meu coração, que todas essas coisas não se tornem apenas história e desçam com a água pelos buracos do escorredor de macarrão laranja.



terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nessa longa estrada da vida

Fiquei pensando esses dias em algumas das escolhas que já fiz na vida.

Escolhi por dois anos abdicar da minha vida social me enfiando em um cursinho pré-vestibular pelo sonho de estudar Letras e Jornalismo. Na época não saberia se essa escolha valeria a pena. Sofria e me sentia, muitas vezes, sozinha e sem amigos, mas hoje vejo que valeu mesmo a pena, como meus pais me diziam que seria. Foi uma escolha que foi válida a longo prazo. E só agora eu enxergo isso. Demorou, mas hoje trabalho na área em que escolhi, em um emprego que me traz estabilidade e a possibilidade de me divertir, viajar e construir o futuro que sempre sonhei pra mim. Prefiro assim e fico orgulhosa da escolha de abdicar da vida social e de ter sido forte o suficiente pra suportar todas as dificuldades que acompanharam essa decisão. Força. Não preciso de nada além disso agora. A vida tem, nos últimos meses, me mostrado diferentes estradas e vou escolhendo por qual sigo na medida em que me deparo com elas. Claro que na hora em que adentramos num novo caminho nos sentimos, por vezes, confusos, desorientados e na dúvida se o caminho Y não teria sido mais curto pra chegar ao nosso objetivo. Não. Na vida não tem caminho mais curto ou mais longo. São caminhos e devemos seguir o tempo todo, sem parar no espaço, no tempo. A gente tropeça, cai e levanta pra seguir com mais força ainda e vai aprendendo com cada queda. Difícil é cair, mas precisamos sempre lembrar das feridas todas que o caminho que escolhemos trouxeram, valorizando ainda mais as escolhas, as vitórias. Só não podemos parar e ficar na dúvida na encruzilhada. Admiro isso em mim. Não tenho dúvida dos meus sonhos, das minhas vontades. Sei exatamente onde eu quero chegar no final da estrada. Mas algumas pessoas não são assim. Não sonham, não traçam objetivos e não são capazes de construir muitas coisas na vida a longo prazo. Seguem o caminho pra onde a vida as empurra. Não sei se são mais ou menos felizes assim, mas tenho certeza de que a vitória pra essas pessoas não tem o mesmo significado e valor do que a vitória pra quem escolheu e foi atrás de seguir um caminho com algum objetivo, mesmo que cheio de tropeços, caindo, levantando, aprendendo, superando.

Uma pena. Não saberão nunca o valor da conquista.

Estou prestes a completar mais um ano de vida. Serão 27. Aos 15 lembro que achava que as pessoas de 20 e poucos anos eram tão velhas. Hoje até sonho fazer 30. Busco a maturidade e enxergo que a experiência dos tropeços dos caminhos que escolhemos traz isso. Só a idade é capaz de nos ampliar o conhecimento sobre a essência real da nossa existência. E busco isso todos os dias da minha vida entre os caminhos que escolhi. Entender as pessoas, entender a vida. A cada ano que completo olho pras estradas por onde passei nos 12 meses anteriores criticamente. E essa hora está se aproximando. Momento de parar e refletir sobre as escolhas que fiz. Momento de se preparar para os novos caminhos que virão por aí, e aproveitar da experiência pra tentar seguir sempre pelo melhor caminho, o menos doloroso, pra chegar onde eu quero. Não tenho dúvidas do que eu quero enxergar no final da minha estrada quando completar 28 anos. E tenho certeza de que vou conseguir. É o que eu quero, não o que eu espero enxergar. A maioria das pessoas esperam. E esperam. E esperam. Nunca saem do lugar.

Uma pena. Não saberão nunca o valor de uma luta.